O pré-trabalho
Eu nem sei
por onde começar, porque na verdade, eu nem sei como ou quando começou. Então
vou voltar algumas semanas no tempo... Lá pelo meio de julho, nossa última
viagem a três + 1. Fomos de carro para a Bélgica e ida foi ok, a viagem foi ok,
mas a volta... Dizem que não é legal grávida ficar andando de carro. Eu e minha
barriguinha nunca tínhamos tido problemas. Mas essa volta... Depois de 3 horas
rodando, eu já não aguentava mais! Era contração atrás de contração. E apesar
de não sentir nenhuma dor, era muito desconforto, que eu sentia calada, com um
falso sorriso no rosto, sem dizer nada ao marido. Não queria que ele se
preocupasse, não queria que ele acelerasse, porque não tinha nada que podia ser
feito, só tínhamos que chegar em casa...
Desde então,
eu não parei mais de ter contração. Nessa época eu estava na 36 semana de
gravidez. Repouso e mais repouso pra esperar pelo menos até a 37, 38 semana...
Mas muita ansiedade e certa angustia, porque eu não achava que a gente chegaria
até lá. Todos os dias eu me olhava no espelho e me perguntava se a barriga tava
baixa, se ela estava chegando.
Duas ou três
vezes eu tive certeza de que ela ia nascer logo, logo. Contrações ritmadas
durante 3, 4, 5 horas! Não chegavam a doer como eu sabia que doeriam, mas
também não estavam tranquilinhas de passar. Era um grande incômodo, me faziam
parar o que eu estava fazendo, respirar, concentrar e contar... A cada 5
minutos, a cada 3 minutos... Amanhã de manhã, rumo pro hospital, eu dizia... E
o amanhã chegava e nada! Não é que as contrações paravam durante a noite,
muitas vezes eu acordava com elas. Mas espaçavam, ficavam a cada 15, 20
minutos, às vezes até bem mais, me mostrando que não, ela ainda não ia nascer.
Quem sabe amanhã, né? E mais ansiedade, nessa espera que parecia interminável!
Porque não
eram só as contrações que me faziam achar que a hora estava chegando. Outros
sintomas apareciam também. Vontade zero de comer, sede, muita vontade de ir ao
banheiro (a cada contração), dificuldade de respirar em alguns momentos, dor
nas costas... Tomava banhos demorados pra relaxar e aliviar tudo isso. Deitava
e ia dormir cedo. Me preparando, caso ela chegase amanhã. Porque o meu grande
problema com a Chloé foi cansaço, então, já pra cama, descansar, caso ela
chegue amanhã mesmo! E mais uma noite e nada!
Até que
chegou o sábado... Eu com 39 semanas e 4 dias de gravidez. Não sei exatamente a
que horas (no meio, fim de tarde?), mas senti (mais uma vez) que ela estava
vindo. Como tive alarmes falsos antes, resolvi esperar. E lá vai contar
contração! Foram 5 horas de contrações mais ou menos ritmadas. Foram 5 horas de
contrações doendinho. Foram 5 horas de estratégias pra conseguir passar por
cada uma delas até ir pro hospital.
![]() |
Contando contração! |
E durante
essas 5 horas...
Eu achava
que a presença da Chloé ia ser uma boa distração pras contrações, não podia
estar mais errada! É que nessas horas, você se concentra completamente em você
mesma. Os outros, o mundo, estão ali para e por você (ou pelo menos é esse o
sentimento). Nada mais importa! E a Chloé querendo atenção, meio que irritava,
como se ela devesse compreender, entender e me ajudar nessa situação. Tadinha,
é pedir demais pra um bebê que em dois anos tem. Então, eu acabava me
repartindo entre dar atenção a mim mesma e fazer um esforço enorme pra não
descontar nela minhas dores e frustrações. Para, além disso, ser mãe! A mãe que
ela merece que eu seja.
Tomamos
banho juntas e a cada contração eu pedia um tempinho pra ela e passava o minuto
dizendo, calma, Chloé, dá um minutinha pra mamãe, só um poquinho Chlo,
rapidinho... Depois, fomos ao parquinho aqui perto, nós três (quatro). O marido
achava que sair, tomar um ar, me faria bem. Ela brincava, eu olhava, ele às
vezes acompanhava. A cada contração eu colocava os pés no banco e sentava de
cócoras e respirava. Devem estar me achando muito doida, eu dizia pro marido.
Ele ria, dizia provavelmente e me dava a mão. Isso tudo já no final da tarde,
começo da “noite” (como é verão aqui, escurece muito tarde).
Pra terminar
o dia, o marido teve que sair e ficamos só nós duas em casa. Eu estava
cozinhando o jantar. Ela, brincando com os potes no armário da cozinha. Nesse
ponto as contrações já estavam sofridas e eu não podia entrar na água quente do
banho. Em uma particularmente sofrida, eu faço cara feia e ela me olha meio
assustada. Carinha de quem ia começar a chorar. Na mesma hora mudei de atitude,
comecei a cantar e pedi pra ela dançar comigo. Ela riu, sorriu e me seguiu. A
cada contração, a gente dançava, a gente saltava e andava pela casa. Não foram
muitas e logo, logo o papai chegou, mas isso determinou o resto do meu
(pré)trabalho de parto.
É que eu
percebi que andar, rebolar, me movimentar, me ajudavam muito mais que ficar
paradinha respirando. A cada contração, lá ia eu, em ritmo acelerado caminhando
pelo apartamento. O marido terminou o jantar, porque eu descascando uma batata
a cada 5 minutos não ia conseguir terminar nunca, Chloé comeu, eu comi (me
forcei a comer pelo menos um pouquinho) e o marido foi levar ela pra dormir na
minha mãe.
Eu pedi pra
não alardear muito, não queria todo mundo achando que ela tava chegando pra
dizer no dia seguinte que não era ainda a hora. Mas deixamos ela lá sabendo que
íamos ao hospital. Mas quantas noites eu não achei que iria e no final das
contas, fui só até minha cama mesmo, dormir?
![]() |
Eu, na certeza de que ela ia chegar! |
Quando ele
voltou, continuei contando as contrações, me preparando pra chegada dela e
dançando ao som de anunciação. Você vai dançar a noite toda? Eu vou, se isso
ajudar ela a chegar! Se isso ajudar a passar a dor! Com o tempo, as dores foram
aumentando, o cansaço foi aumentando e eu comecei a usar outras estratégias,
comecei a tentar descansar, comecei a respirar com o marido. Começou a doer
bastante! Começou a ficar difícil respirar (inspiraaaaaa... expiraaaa...). Vamos
pro hospital? Esperamos? Eu não queria ir até lá e voltar depois. Apesar das
dores, ainda tinha bastante dúvida se era a hora mesmo de ir até lá. Me
perguntava e perguntava ao marido. Ele respondeu que não tem problema ir e
voltar, se for o caso. O importante é se tranquilizar. Vai que é a hora dela
mesmo, né? A gente não quer que ela chegue aqui em casa, com a gente sozinho e
sem preparo, né?
Eu devo ter
demorado bem uns 30 minutos pra sair. Era uma contração, uma meia, uma
contração, um sapato, uma contração, ida ao banheiro, uma contração, escovar os
dentes... Mas lá fomos nós, por volta das 11 horas, para o hospital!
Chegamos lá,
entramos pela emergência, por conta do horário. Tem que interfonar e explicar a
situação. A moça abre a porta pra entrarmos com o carro. O marido entra no
carro. A porta fecha. Você acha que está vacinado, segundo filho, né? Mas a
situação foi e-xa-ta-men-te a mesmo no parto da Chloé! E lá toca o marido de
novo: Moça, não fui rápido o suficiente, dá pra abrir de novo? Eu ainda
conseguia rir e fazer piadas da situação (sinal de que ainda não era a hora,
mas isso só vejo a agora, né?). Entramos, estacionamos e subimos. Tudo
devagarzinho, contando contração, apertando a mão do marido, respirando
(tentando)...
Chegamos na
secretaria. Marido respondendo a todas as perguntas, entregando meus documentos
e eu... respirando... A enfermeira me levou pra examinar, 1 dedo de dilatação,
colo curto (como na semana 37) e deslocado a esquerda. Eita exame dolorido! Com
a Chloé, com outras enfermeiras, não senti dor, mas com essa... Fiz um exame de
pipi. Sentei na cadeira e colocaram aquelas coisas pra monitorar as contrações
e os batimentos cardíacos da pequena. A primeira contração foi a 25 e a cada
contração o coração dela acelerava. Depois disso, cada uma não marcava mais de
16. E eram a cada 10 minutos! Cheguei a ter um fim de contração que marcava 5,
mas a dor com certeza não era de 5, porque sem contração, o negócio marcava 4! Fiquei
com a suspeita de que a enfermeira não era boa, de que a máquina não
funcionava, enfim! Mais um exame antes de ir embora e nenhuma mudança. “É um
falso trabalho”, ela falou. Pode voltar pra casa, tomar um doliprane e um
spasfon!
Afe!
Voltamos, né?
Continua aqui: Parte 2 do Relato de parto da Emma
E quem quiser ler o relato de parto da Chloe, aqui vai:
+
Considerações sobre o parto da Chloé
Adorei o relato parte I, mas já quero logo a parte II rssss 😘
ResponderExcluirheheheheh! Segunda que vem!!
Excluir