O nascimento

Acho que
todos sabem que eu não pretendia tomar a peridural, mas depois de 46 horas
acordada, depois de muita contração e pouca dilatação, me rendi! Marido, chama
a enfermeira! Ele chamou, ela chegou, saiu pra preparar a outra sala, chamar a
médica... e lá fui eu pra sala de parto sozinha (marido não pode acompanhar a
anestesia em si), mal enrolada no meu lençol, morrendo de medo da temida
peridural. Antes da injeção colocaram uma agulha com soro (?) na minha mão.
Devo dizer que isso doeu mais que a peridural. Pintaram minhas costas de
vermelho, pediram pra eu deixar as costas curvas, pediram de novo, porque eu
não deveria estar fazendo isso direito, colocaram um anestésico local e depois
a peridural. Para isso disseram que eu não poderia de jeito nenhum me mexer.
Tinha que enfrentar as contrações paradinha. (Ain, vontade de chorar lembrando).
Eu pedi, meio em desespero (me sentia uma criança desamparada) pra segurar a
mão da estagiária. Nossa, que os deuses abençoem essa menina! Sério mesmo! Ela
foi de uma empatia, compaixão, carinho... Nem sei que palavra utilizar pra
expressar! Mas ela estava lá para mim. Segurou minha mão, conversou comigo e me
ajudou a atravessar isso da melhor forma possível. Ainda bem que ela estava lá,
porque eu precisava realmente de alguém disponível para mim e a enfermeira e a médica
estavam ocupadas com os procedimentos necessários. Ela também era minha
tradutora, pois eu não entendia nada do que a anestesista falava (tinha um
sotaque meio russo, sei lá). Perguntaram como eu me sentia, estava meio tonta.
Era efeito da anestesia. Me deitaram na cama e o marido pôde entrar. Ele
perguntou como eu estava (tonta), se tinha doido (só a mão que ainda incomodava)
e como eu estava (ainda com contração, mais sentia menos dor). Ficamos uns
5 minutos juntos, conversando e eu fui relaxando, descansando. Ele me cobriu e
falou pra eu dormir, enquanto segurava minha mão.
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Depois da peridural |
Acordei umas duas horas
depois, com contrações doloridas de novo. Marido estava dormindo no chão
(tadinho, também estava cansado). Mas assim que eu acordei, chamei por ele e
acordou na mesma hora. Falei que estava sentindo dor e ele chamou a enfermeira.
Ela perguntou se estava como antes da anestesia, eu respondi que não tinha
certeza... contração, contração... Sim, dói tanto quanto antes. E agora eu não
podia nem me mexer, andar, mudar de posição. Faz alguma coisa, moça, por favor!!
(Vontade de chorar de novo, lembrando disso). Falei que não queria mais estar
grávida (rs). Marido falou que agora era tarde demais. A enfermeira chamou a
anestesista que conferiu a peridural e disse que estava entupida/dobrada, sei
lá. Resumindo, eu estava sem anestesia. Ela arrumou a situação e colocou mais
uma dose. A enfermeira então rompeu a bolsa, já eram 6h da manhã.
Essa é uma
sensação muito estranha. Muito líquido saindo de dentro de mim. Água, sangue,
sei lá, mas eram litros e litros saindo. Eu queria zero intervenção durante o
meu parto, mas a partir do momento que pedi a peridural sabia que outros
procedimentos médicos poderiam ocorrer. Por isso não reclamei e deixei fazerem.
Perguntamos a enfermeira quanto ainda ia demorar (doía e eu tinha que ficar
naquela posição que em nada ajudava). 5cm de dilatação, ritmo de 1cm por
hora... Ela deve nascer lá pelas 11h da manhã, concluímos.
Já estava
muito cansada, 47 horas acordada (quer dizer, tinha tirado aquele cochilinho de
duas horas que ajudaram muito). Marido falou pra eu tentar dormir e descansar
mais um pouco. Eu não conseguia, pois ainda sentia muita dor. Falei com a
enfermeira, que disse pra espera um pouco pra anestesia pegar. Esperei e a dor
não passava. Pedi, implorei pra ela aumentar a dose e ela disse que não podia,
pra esperar a anestesia pegar. Continuei reclamando e ela foi verificar quanto
de dilatação. Ai ela tomou um susto e pediu pra estagiária chamar a auxiliar,
Sapinha estava nascendo! Foi uma pequena correria para todos se prepararem e se
posicionarem. Marido ficou em cima da minha cabeça, pois o lugar anterior dele,
do meu lado esquerdo, foi tomado pela auxiliar (que deve ter sido apresentada,
mas não lembro, ela chegou nessa hora, só para ajudar a enfermeira, sem nenhum
um sorrisinho ou palavra direcionada a mim). Do meu lado direito, a estagiária
abençoada. No meu pé a enfermeira. Enquanto todos se posicionavam ela falou pra
ainda não empurrar, mas foi super rápido e então ela disse pra empurrar quando
sentisse uma contração.
Era muita
dor e achava difícil identificar o que era contração, o que era bebê nascendo.
Quando achava que era hora perguntava se eu podia empurrar. Ela perguntava pra
auxiliar se eu estava tendo contração. A auxiliar confirmava. Ela dizia que
podia empurrar. A gente ficou nesse sistema algumas vezes (não sei quantas). A
cada contração/empurrada a enfermeira dizia pra empurrar mais e mais forte. Eu
tentava, mas estava muito cansada, queria que deixassem em paz só um pouquinho
(rs), pra eu descansar antes de empurrar. Pedi pra não estar grávida, disse que
não estava preparada pra ter o parto nessa posição, que não tinha treinado
(rs), que não tinha a força necessária, que era incapaz. Tudo isso entre as
contrações. Durante as contrações eu empurrava, mas não muito bem.
Muito desse
meu sentimento de incapacidade vinha pelo que a enfermeira dizia, ou pela forma
que ela dizia, querendo mais e mais forte. Eu empurrava no máximo e achava que
se aquilo não era suficiente, não sabia como ou o que fazer. O marido e a
estagiária diziam que eu estava indo super bem, que estava tudo correndo bem,
que eu conseguia e estava conseguindo dar a luz a minha menina. A enfermeira
também uma hora foi bem seca e perguntou porque eu tava achando que não estava
caminhando bem. Foi ótimo, porque foi diferente do carinho que estava recebendo
da estagiária e marido e por ser diferente foi como um choque que me fez pensar
e explicar que era pelo que ela estava dizendo. Ela disse que nunca falou nada
disso e que o parto decorria bem, sim, que a bebê estava ali já. Perguntei se
era a cabeça dela que eu sentia passando. Ela disse que sim, perguntou se eu
queria sentir (não), se eu queria que eles colocassem um espelho pra eu ver
(não). Eu realmente só precisava saber que ela estava ali. Isso me deu muito
força!
Eu levantava
o quadril enquanto empurrava, não sei porque. Em um certo momento ela disse pra
não fazer isso, mas continuei fazendo como eu podia/sentia. Em um certo momento
ouvi ela falando pra ir acordar o médico, mas não sei bem quando, é possível
que tenha sido antes da possibilidade de sentir a cabecinha dela. Eu lembro dos
fatos, mas a temporalidade foi meio perdida. Mas quando ouvi ela dizendo pra
chamar o médico eu disse pra mim mesma: Não! Ninguém vai tirar minha filha, nós
duas vamos fazer isso sem ninguém puxando ela pra fora! Nada de fórceps ou
ventosa (e sabia que médico significava isso). Foi um raciocínio super
complexo, mas que aconteceu em segundos. Eu me centrei e falei pra mim mesma
que ia fazer isso direito. A vontade que eu sentia era a mesma, exatamente a
mesma de querer ir ao banheiro pra fazer cocô enquanto constipada. A imagem não
é muito bonita, mas é bem isso mesmo. Eu pensei nas aulas de preparação, e pensei
que se tava com vontade de fazer cocô, ia empurrar como se estivesse no
banheiro, sem censura. E empurrei mesmo. A enfermeira falou pra esperar algumas
vezes (duas vezes, eu acho) a contração. Mas eu estava completamente segura do
que queria (e principalmente não queria - médico) e sabia que quando eu tava
afim de empurrar, eu tinha que empurrar e pronto. Me impus, não
avisava/perguntava mais se podia empurrar. Eu simplesmente empurrava quando
queria. Acho que a enfermeira percebeu que agora ia, parou de se comunicar
comigo e se concentrou em receber Sapinha. Empurrava e gritava como nos filmes
(alguém perguntou isso pro marido quando nos visitaram e ele disse foi assim).
Foram dois ou três empurrões e ela nasceu. Diz o marido que ela chorou. Eu não
lembro.
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O nascimento |
A enfermeira
disse que seriam dois ou três pontos (não lembro quando foi isso exatamente,
como disse, lembro dos fatos, das falas, mas não da ordem que aconteceram), mas
na hora de fazer os pontos mesmo ela viu que não precisava. Ela também comentou
(rindo/sorrindo) que acordaram o médico a toa, eu ri. O clima era outro na sala
de parto, era leve, sentimento de dever cumprido (e parto bem sucedido)
compartilhado entre todos. Cortaram o cordão. Colocaram Sapinha sobre mim.
Disseram que agora tinha que empurrar a placenta. "Com ela em cima de
mim?? Não, não! Dá ela pro pai." O marido ficou meio bobo (rs), não sabia
o que fazer. Falaram pra ele tirar a camisa. Ele tirou e ia colocar de volta o
negócio (aquela espécie de jaleco ao contrário) que estava por cima da blusa
(rs), daí disseram que ele tinha que ficar com o torso nu pro pele a pele. Foi
um momento lindo, ele amou ter a filha deitada sobre ele, mas pra ser sincera
eu não lembro muito, não fiquei muito atenta neles. Estava "in the
zone" (rs) super concentrada pra expulsar a placenta. A médica falou que
tinha que fazer isso logo, que não podia esperar muito tempo, se não ela teria
que intervir e puxar. Eu lembrava que isso era meio mito, tinha lido sobre
isso, mas não tinha lido o suficiente pra argumentar direito e estava muito
cansada pra isso. Então me preocupei em empurrar de novo e direito e rapidinho
a placenta estava fora. Ela checou pra ver se estava tudo ok e a placenta
estava inteirinha! Nada ficou lá dentro.
Enquanto
isso o marido acompanhava os procedimentos com a sapinha, ali na sala mesmo.
Pesaram, mediram e não sei mais o que fizeram. Perguntaram o nome dela: Chloé. O
marido a vestiu, as roupas imensas! Perguntei que horas eram, elas responderam
que eram sete e pouco (não lembro), mas que Sapinha tinha nascido as 6:51. Era
o que eu queria saber de verdade. Colocaram ela de volta em cima de mim, ela
procurou o peito e mamou. Não sei nem se saiu leite (colostro). Eu estava bem
emocionada. O marido também. Ela era pequenininha, linda, perfeita.
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Amamentando pela primeira vez |
E quem não leu o começo do relato de parto da Chloé:
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E o relato de parto da Emma: