Desabafo
Eu nunca fui
fã da minha ginecologista, mas tinha preguiça de trocar. Então, lá fomos nós,
futuros pais cheios de angústia para nossa primeira consulta! O primeiro
comentário dela é estávamos super atrasados e tínhamos um monte de exames pra
marcar e burocracias para fazer. Não sei se ela não se programou pra uma
grávida, mas a impressão era de que o tempo de consulta era curto para todos os
procedimentos que precisavam ser feitos. Ela logo se apressou em dizer que
teríamos que nos ver logo após os exames de sangue e ecografia e que nesse momento
ela explicaria os procedimentos burocráticos direitinho e tiraria as dúvidas.
Ok, ela é meio speed, meio ligeirinha, mas eu também sou meio assim, então
apesar de sentir um certo incomodo, racionalizei como algo positivo.
Pouco tempo
depois, lá fomos nós pra consulta numero 2! Eu realmente esperava uma conversa
longa e detalhada. Como eu não sou francesa, as diversas declarações, pra quem
entregar o que e em que momento me deixam meio confusa e não sabia como se dá o
parto e o acompanhamento da gravidez na França. A gente cresce num país e até
sair de lá não se dá conta do tanto que coisas simples, do cotidiano, podem ser
complicadas. Mas essa conversa prometida e esperada não aconteceu. Ela
perguntou em que maternidade teríamos o bebê. Nós não sabíamos, não somos da
região e não tínhamos informações a respeito. Por isso perguntamos a ela qual
era melhor, qual ela aconselhava? E ela respondeu que só tinham duas e que eram
a mesma coisa (o que hoje eu sei que é bem mentira! A tal sala natural, por
exemplo, só tem em uma) e já foi nos dispensando, como se a gente tivesse
incomodando. Mas como tínhamos questões, guardadas ainda da última consulta, ficamos
sentadinhos e fomos perguntando. Aproveitando o gancho da maternidade, meu
marido perguntou se ele poderia dormir comigo no quarto. A resposta: deve poder,
não sei, mas você não vai querer, vai querer ficar tranquila e livre dele pra
descansar. Oi? Quem é você mesmo pra dizer se eu vou ou não querer a companhia
do meu marido nas primeiras noites da minha filha? Aliás, se vamos
querer, pois ele está nesse barco junto comigo e as decisões são tomadas em
conjunto. Ele perguntou também se existiam curso para futuros papais, pois viu
na internet que... e nesse "internet que" ela já nos cortou, dizendo
que a internet estava cheia de bobagens e que a gente não deveria ficar lendo
sobre a gravidez, só aproveitar mesmo. Oi de novo? Eu sou quase doutora na
minha área (entrego a tese quase junto da bebê) e acho que sou bem capaz de
checar fontes e ver se a informação é ou não pertinente. Isso sem a
desqualificação total do nosso investimento nessa gravidez, pois é claro que
vou ler tudo o que puder sobre o assunto! E respondendo sobre o curso de
paternidade, ela disse que não, que existia somente para mães (o que também é
falso, o tal curso existe, apesar de ser difícil de achar e caro). Minha única dúvida
era sobre o acompanhamento e sobre isso ela só entregou uma folha e disse que
eu encontraria as informações lá (nessa folha tinha as datas das consultas e
ecografias e só). Quem tinha perguntas mesmo era o marido, que leu, se informou
e conhece o sistema minimamente para saber o que perguntar. E a cada pergunta
ou comentário dele, ela se voltava pra mim, respondia para mim, se centrava na
mãe, como se o pai fosse acessório descartável. Cheguei a comentar com ele, se
não tinha sentido uma certa hostilidade, mas ele disse que não...
O marido foi
ainda em uma consulta, mas um trabalho novo exigiu uma mudança repentina pro
outro lado da França (de Metz à Brest) e tive que ir sozinha a mais algumas.
Foi indo sozinha que eu percebi o tanto que ela era agradável! Realmente um
amorzinho durante os exames e consultas. Conclusão: sim, a presença do meu
marido não era desejada. Como eu ia mudar pra Bretanha no próximo mês, acabei
não trocando de ginecologista. Como eu acabei não mudando, ainda tive que
voltar nela duas vezes (dois meses pra conseguir consulta no hospital!), uma
sem o marido (amorzinho compreensiva) e outra com (poço de grosseria).
Nessa última
(marido presente) ela me disse que minha barriga estava muito pequena. Por duas
vezes eu disse isso em outras consultas (afinal eu vi 20 outras mães na aula de
preparação, todas com barrigão!), mas na época ela disse que não e do nada,
nessa última, vem com essa novidade? (ohhhhh, que novidade!) e disse ainda que
minha bebê deveria estar muito pequena! Nesse momento, da aquele medo de ter
algo errado, dela estar fora da curva de crescimento, então eu pergunto:
pequena, mas ok, saudável? Ela responde, meio irritada: Sei lá, tem que esperar
a ecografia pra ver. Então que diabos estou fazendo aqui??????? Poucas vezes
detestei tanto um médico! Ela não é obrigada a saber, se naquele momento, tudo
está ok, mas se tem possibilidade de não estar, ela não deveria pedir exame
complementares? E se acha que está tudo ok, não deveria dizer que acredita que
sim, está tudo ok, pois nunca tive problema em nenhum exame até então, mas que
só a ecografia poderia confirmar? Foi a gota d'água! Essa médica, nunca mais! Ainda
bem que era a última.
Mas voltando
a questão do marido, que é a razão desse post, não entendo o que se passa na
cabeça de pessoas como ela! A presença do pai é tão importante pro bebê. A
presença do marido é tão importante para a mulher (pelo menos pra mim). Lá
estava ele, todo participativo e ela cortando? Quando eu trabalhava na
hospitalização infantil de um outro hospital, 3 homens diferentes se queixaram
que a presença deles não era bem quista, que a equipe médica preferia que a mãe
ficasse com a criança durante a estadia e, principalmente, durante a noite. A
gente batalha tanto por igualdade de gênero! Mas o machismo nosso de cada dia,
exclui os homens dos ambientes "femininos" até por aqui... :( Quando será
que homens cuidando de seus filhos será algo normal?
Nesse dia
dos pais, tudo o que eu mais desejo é que meu marido possa participar sem
restrições da gravidez, do parto e da vida da nossa menina. Que a maternidade,
a escola, e todos os ambientes que nossa filha tiver que frequentar não sejam
hostis a presença dele. Que ele possa trocar fralda, dar de comer, ir na reunião
com a professora, levá-la ao banheiro, dividir o quarto durante uma
hospitalização (espero que nunca, além do pós-parto), levar ao pediatra, enfim,
cuidar dela sozinho, sem depender de mim e sem receber olhares de reprovação ou
estranhamento. Que mais e mais pessoas aplaudam e encorajem esse tipo de
atitude dos homens. Que sejamos parceiros na vida e iguais na criação da nossa
pequena, pois somos igualmente capazes.
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Marido e pequena no futuro |
Simplesmente amei!!! Cada depoimento mais tocante que o outro ❤️❤️❤️💞💞💞
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ExcluirMuito bom!!!
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