domingo, 9 de agosto de 2015

Por que meu marido não pode participar?



Desabafo


Quando eu descobri que estava grávida, foi um período difícil pra gente. Como foi a bebê não foi planejada, o susto, a rejeição foram grandes, principalmente da parte do meu marido, pois eu sempre quis ter uma filha. Mas passado o tempo da adaptação, quando foi estabelecido e aceito que teríamos um bebê, ele foi o mais parceiro de todos. Tenho a impressão de que se ele pudesse, carregaria a bebê e faria o parto no meu lugar. Ele investiu nessa nova relação, comprou livros, se informou (confesso que ele sabe mais que eu!) e quis estar presente em todas os exames e consultas médicas.
 

Eu nunca fui fã da minha ginecologista, mas tinha preguiça de trocar. Então, lá fomos nós, futuros pais cheios de angústia para nossa primeira consulta! O primeiro comentário dela é estávamos super atrasados e tínhamos um monte de exames pra marcar e burocracias para fazer. Não sei se ela não se programou pra uma grávida, mas a impressão era de que o tempo de consulta era curto para todos os procedimentos que precisavam ser feitos. Ela logo se apressou em dizer que teríamos que nos ver logo após os exames de sangue e ecografia e que nesse momento ela explicaria os procedimentos burocráticos direitinho e tiraria as dúvidas. Ok, ela é meio speed, meio ligeirinha, mas eu também sou meio assim, então apesar de sentir um certo incomodo, racionalizei como algo positivo.

Pouco tempo depois, lá fomos nós pra consulta numero 2! Eu realmente esperava uma conversa longa e detalhada. Como eu não sou francesa, as diversas declarações, pra quem entregar o que e em que momento me deixam meio confusa e não sabia como se dá o parto e o acompanhamento da gravidez na França. A gente cresce num país e até sair de lá não se dá conta do tanto que coisas simples, do cotidiano, podem ser complicadas. Mas essa conversa prometida e esperada não aconteceu. Ela perguntou em que maternidade teríamos o bebê. Nós não sabíamos, não somos da região e não tínhamos informações a respeito. Por isso perguntamos a ela qual era melhor, qual ela aconselhava? E ela respondeu que só tinham duas e que eram a mesma coisa (o que hoje eu sei que é bem mentira! A tal sala natural, por exemplo, só tem em uma) e já foi nos dispensando, como se a gente tivesse incomodando. Mas como tínhamos questões, guardadas ainda da última consulta, ficamos sentadinhos e fomos perguntando. Aproveitando o gancho da maternidade, meu marido perguntou se ele poderia dormir comigo no quarto. A resposta: deve poder, não sei, mas você não vai querer, vai querer ficar tranquila e livre dele pra descansar. Oi? Quem é você mesmo pra dizer se eu vou ou não querer a companhia do meu marido nas primeiras noites da minha filha? Aliás, se vamos querer, pois ele está nesse barco junto comigo e as decisões são tomadas em conjunto. Ele perguntou também se existiam curso para futuros papais, pois viu na internet que... e nesse "internet que" ela já nos cortou, dizendo que a internet estava cheia de bobagens e que a gente não deveria ficar lendo sobre a gravidez, só aproveitar mesmo. Oi de novo? Eu sou quase doutora na minha área (entrego a tese quase junto da bebê) e acho que sou bem capaz de checar fontes e ver se a informação é ou não pertinente. Isso sem a desqualificação total do nosso investimento nessa gravidez, pois é claro que vou ler tudo o que puder sobre o assunto! E respondendo sobre o curso de paternidade, ela disse que não, que existia somente para mães (o que também é falso, o tal curso existe, apesar de ser difícil de achar e caro). Minha única dúvida era sobre o acompanhamento e sobre isso ela só entregou uma folha e disse que eu encontraria as informações lá (nessa folha tinha as datas das consultas e ecografias e só). Quem tinha perguntas mesmo era o marido, que leu, se informou e conhece o sistema minimamente para saber o que perguntar. E a cada pergunta ou comentário dele, ela se voltava pra mim, respondia para mim, se centrava na mãe, como se o pai fosse acessório descartável. Cheguei a comentar com ele, se não tinha sentido uma certa hostilidade, mas ele disse que não...

O marido foi ainda em uma consulta, mas um trabalho novo exigiu uma mudança repentina pro outro lado da França (de Metz à Brest) e tive que ir sozinha a mais algumas. Foi indo sozinha que eu percebi o tanto que ela era agradável! Realmente um amorzinho durante os exames e consultas. Conclusão: sim, a presença do meu marido não era desejada. Como eu ia mudar pra Bretanha no próximo mês, acabei não trocando de ginecologista. Como eu acabei não mudando, ainda tive que voltar nela duas vezes (dois meses pra conseguir consulta no hospital!), uma sem o marido (amorzinho compreensiva) e outra com (poço de grosseria).  

Nessa última (marido presente) ela me disse que minha barriga estava muito pequena. Por duas vezes eu disse isso em outras consultas (afinal eu vi 20 outras mães na aula de preparação, todas com barrigão!), mas na época ela disse que não e do nada, nessa última, vem com essa novidade? (ohhhhh, que novidade!) e disse ainda que minha bebê deveria estar muito pequena! Nesse momento, da aquele medo de ter algo errado, dela estar fora da curva de crescimento, então eu pergunto: pequena, mas ok, saudável? Ela responde, meio irritada: Sei lá, tem que esperar a ecografia pra ver. Então que diabos estou fazendo aqui??????? Poucas vezes detestei tanto um médico! Ela não é obrigada a saber, se naquele momento, tudo está ok, mas se tem possibilidade de não estar, ela não deveria pedir exame complementares? E se acha que está tudo ok, não deveria dizer que acredita que sim, está tudo ok, pois nunca tive problema em nenhum exame até então, mas que só a ecografia poderia confirmar? Foi a gota d'água! Essa médica, nunca mais! Ainda bem que era a última.  

Mas voltando a questão do marido, que é a razão desse post, não entendo o que se passa na cabeça de pessoas como ela! A presença do pai é tão importante pro bebê. A presença do marido é tão importante para a mulher (pelo menos pra mim). Lá estava ele, todo participativo e ela cortando? Quando eu trabalhava na hospitalização infantil de um outro hospital, 3 homens diferentes se queixaram que a presença deles não era bem quista, que a equipe médica preferia que a mãe ficasse com a criança durante a estadia e, principalmente, durante a noite. A gente batalha tanto por igualdade de gênero! Mas o machismo nosso de cada dia, exclui os homens dos ambientes "femininos" até por aqui... :( Quando será que homens cuidando de seus filhos será algo normal?




Nesse dia dos pais, tudo o que eu mais desejo é que meu marido possa participar sem restrições da gravidez, do parto e da vida da nossa menina. Que a maternidade, a escola, e todos os ambientes que nossa filha tiver que frequentar não sejam hostis a presença dele. Que ele possa trocar fralda, dar de comer, ir na reunião com a professora, levá-la ao banheiro, dividir o quarto durante uma hospitalização (espero que nunca, além do pós-parto), levar ao pediatra, enfim, cuidar dela sozinho, sem depender de mim e sem receber olhares de reprovação ou estranhamento. Que mais e mais pessoas aplaudam e encorajem esse tipo de atitude dos homens. Que sejamos parceiros na vida e iguais na criação da nossa pequena, pois somos igualmente capazes.


Marido e pequena no futuro





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