terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Quem é essa?



Há exatas duas semanas do parto, quem sou eu?



Me olho no espelho e vejo uma outra pessoa. São quase 7 da noite e ainda não passei uma escova no cabelo. Minhas refeições foram: um copo de leite, uma banana com aveia e mel, um sanduíche com presunto e queijo bleu. Ainda estou de pijama. Vou colocar uma sopa pra descongelar e tomar um banho correndo antes que a bebê acorde. Eu quero chorar. Mas nem isso eu consigo direito.

Preciso dormir. Preciso descansar. Preciso de alguém que tome conta do bebê durante um dia inteiro. Ou metade de um dia. Algumas horinhas só. Mas alguém que tome conta mesmo e não me chame quando ela chorar, que tenha paciência pra acalma-la sozinha. Que espere ela dormir sem pressa. Que deixe ela mamar (na mamadeira mesmo) no ritmo dela.

Eu sou só uma parte de mim mesma. Enquanto uma outra identidade toma lugar (a de mãe), as muitas outras se calam. É preciso ser mais que só mãe, não pelos outros, mas por mim mesmo. Não me resumo só a mãe da sapinha e essas outras muitas Carolinas, que escrevem, que cozinham, que se penteiam, que cuidam dos gatos, ... estão meio apagadas. É que quando ela chora não sobra espaço pra mais nada. Quando ela precisa mamar a mãe está ali 100%. E ela precisa muito de mim e durante muito tempo. Nos tempinhos das dormidas eu continuo mãe, pois não estava preparada pra uma chegada tão rápida e ainda faltam coisas. Hoje passei o dia pesquisando/comprando o tal do sling. Parece que passei tempo demais fazendo isso, mas foram no máximo 2 horas na frente do computador, repartidas em várias parcelas de sono da bebê. Por que o resto do tempo foi pra preparar algo pra comer, trocar a bebê e, principalmente, acalmar os muuuitos choros por causa da dor na barriga.

Talvez essas super mães de propaganda dêem conta de tudo. Mas eu não. Ainda estou aprendendo a conciliar esses outros papéis que um dia foram meus. Ainda estou aprendendo a comer quando dá e rápido, antes que ela acorde, pra não passar o dia com fome. Ainda estou aprendendo a dar de mamar sem quebrar as costas (e o peito). Ainda estou aprendendo e aprendendo a ser mãe.

Mas deixa eu ir ali, que minha sopa borbulha e ela ainda não acordou!

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Relato de parto, parte III



O nascimento


Foram muitas horas acordada durante o (pré)trabalho de parto. Tanto tempo que tive dividir o relato. As partes anteriores (sim, no plural rs) se encontram aqui: relato departo, parte I e aqui: relato de parto, parte II.

Acho que todos sabem que eu não pretendia tomar a peridural, mas depois de 46 horas acordada, depois de muita contração e pouca dilatação, me rendi! Marido, chama a enfermeira! Ele chamou, ela chegou, saiu pra preparar a outra sala, chamar a médica... e lá fui eu pra sala de parto sozinha (marido não pode acompanhar a anestesia em si), mal enrolada no meu lençol, morrendo de medo da temida peridural. Antes da injeção colocaram uma agulha com soro (?) na minha mão. Devo dizer que isso doeu mais que a peridural. Pintaram minhas costas de vermelho, pediram pra eu deixar as costas curvas, pediram de novo, porque eu não deveria estar fazendo isso direito, colocaram um anestésico local e depois a peridural. Para isso disseram que eu não poderia de jeito nenhum me mexer. Tinha que enfrentar as contrações paradinha. (Ain, vontade de chorar lembrando). Eu pedi, meio em desespero (me sentia uma criança desamparada) pra segurar a mão da estagiária. Nossa, que os deuses abençoem essa menina! Sério mesmo! Ela foi de uma empatia, compaixão, carinho... Nem sei que palavra utilizar pra expressar! Mas ela estava lá para mim. Segurou minha mão, conversou comigo e me ajudou a atravessar isso da melhor forma possível. Ainda bem que ela estava lá, porque eu precisava realmente de alguém disponível para mim e a enfermeira e a médica estavam ocupadas com os procedimentos necessários. Ela também era minha tradutora, pois eu não entendia nada do que a anestesista falava (tinha um sotaque meio russo, sei lá). Perguntaram como eu me sentia, estava meio tonta. Era efeito da anestesia. Me deitaram na cama e o marido pôde entrar. Ele perguntou como eu estava (tonta), se tinha doido (só a mão que ainda incomodava) e como eu estava (ainda com contração, mais sentia menos dor). Ficamos uns 5 minutos juntos, conversando e eu fui relaxando, descansando. Ele me cobriu e falou pra eu dormir, enquanto segurava minha mão.  

Depois da peridural
 

Acordei umas duas horas depois, com contrações doloridas de novo. Marido estava dormindo no chão (tadinho, também estava cansado). Mas assim que eu acordei, chamei por ele e acordou na mesma hora. Falei que estava sentindo dor e ele chamou a enfermeira. Ela perguntou se estava como antes da anestesia, eu respondi que não tinha certeza... contração, contração... Sim, dói tanto quanto antes. E agora eu não podia nem me mexer, andar, mudar de posição. Faz alguma coisa, moça, por favor!! (Vontade de chorar de novo, lembrando disso). Falei que não queria mais estar grávida (rs). Marido falou que agora era tarde demais. A enfermeira chamou a anestesista que conferiu a peridural e disse que estava entupida/dobrada, sei lá. Resumindo, eu estava sem anestesia. Ela arrumou a situação e colocou mais uma dose. A enfermeira então rompeu a bolsa, já eram 6h da manhã.

Essa é uma sensação muito estranha. Muito líquido saindo de dentro de mim. Água, sangue, sei lá, mas eram litros e litros saindo. Eu queria zero intervenção durante o meu parto, mas a partir do momento que pedi a peridural sabia que outros procedimentos médicos poderiam ocorrer. Por isso não reclamei e deixei fazerem. Perguntamos a enfermeira quanto ainda ia demorar (doía e eu tinha que ficar naquela posição que em nada ajudava). 5cm de dilatação, ritmo de 1cm por hora... Ela deve nascer lá pelas 11h da manhã, concluímos.

Já estava muito cansada, 47 horas acordada (quer dizer, tinha tirado aquele cochilinho de duas horas que ajudaram muito). Marido falou pra eu tentar dormir e descansar mais um pouco. Eu não conseguia, pois ainda sentia muita dor. Falei com a enfermeira, que disse pra espera um pouco pra anestesia pegar. Esperei e a dor não passava. Pedi, implorei pra ela aumentar a dose e ela disse que não podia, pra esperar a anestesia pegar. Continuei reclamando e ela foi verificar quanto de dilatação. Ai ela tomou um susto e pediu pra estagiária chamar a auxiliar, Sapinha estava nascendo! Foi uma pequena correria para todos se prepararem e se posicionarem. Marido ficou em cima da minha cabeça, pois o lugar anterior dele, do meu lado esquerdo, foi tomado pela auxiliar (que deve ter sido apresentada, mas não lembro, ela chegou nessa hora, só para ajudar a enfermeira, sem nenhum um sorrisinho ou palavra direcionada a mim). Do meu lado direito, a estagiária abençoada. No meu pé a enfermeira. Enquanto todos se posicionavam ela falou pra ainda não empurrar, mas foi super rápido e então ela disse pra empurrar quando sentisse uma contração.

Era muita dor e achava difícil identificar o que era contração, o que era bebê nascendo. Quando achava que era hora perguntava se eu podia empurrar. Ela perguntava pra auxiliar se eu estava tendo contração. A auxiliar confirmava. Ela dizia que podia empurrar. A gente ficou nesse sistema algumas vezes (não sei quantas). A cada contração/empurrada a enfermeira dizia pra empurrar mais e mais forte. Eu tentava, mas estava muito cansada, queria que deixassem em paz só um pouquinho (rs), pra eu descansar antes de empurrar. Pedi pra não estar grávida, disse que não estava preparada pra ter o parto nessa posição, que não tinha treinado (rs), que não tinha a força necessária, que era incapaz. Tudo isso entre as contrações. Durante as contrações eu empurrava, mas não muito bem.

Muito desse meu sentimento de incapacidade vinha pelo que a enfermeira dizia, ou pela forma que ela dizia, querendo mais e mais forte. Eu empurrava no máximo e achava que se aquilo não era suficiente, não sabia como ou o que fazer. O marido e a estagiária diziam que eu estava indo super bem, que estava tudo correndo bem, que eu conseguia e estava conseguindo dar a luz a minha menina. A enfermeira também uma hora foi bem seca e perguntou porque eu tava achando que não estava caminhando bem. Foi ótimo, porque foi diferente do carinho que estava recebendo da estagiária e marido e por ser diferente foi como um choque que me fez pensar e explicar que era pelo que ela estava dizendo. Ela disse que nunca falou nada disso e que o parto decorria bem, sim, que a bebê estava ali já. Perguntei se era a cabeça dela que eu sentia passando. Ela disse que sim, perguntou se eu queria sentir (não), se eu queria que eles colocassem um espelho pra eu ver (não). Eu realmente só precisava saber que ela estava ali. Isso me deu muito força!

Eu levantava o quadril enquanto empurrava, não sei porque. Em um certo momento ela disse pra não fazer isso, mas continuei fazendo como eu podia/sentia. Em um certo momento ouvi ela falando pra ir acordar o médico, mas não sei bem quando, é possível que tenha sido antes da possibilidade de sentir a cabecinha dela. Eu lembro dos fatos, mas a temporalidade foi meio perdida. Mas quando ouvi ela dizendo pra chamar o médico eu disse pra mim mesma: Não! Ninguém vai tirar minha filha, nós duas vamos fazer isso sem ninguém puxando ela pra fora! Nada de fórceps ou ventosa (e sabia que médico significava isso). Foi um raciocínio super complexo, mas que aconteceu em segundos. Eu me centrei e falei pra mim mesma que ia fazer isso direito. A vontade que eu sentia era a mesma, exatamente a mesma de querer ir ao banheiro pra fazer cocô enquanto constipada. A imagem não é muito bonita, mas é bem isso mesmo. Eu pensei nas aulas de preparação, e pensei que se tava com vontade de fazer cocô, ia empurrar como se estivesse no banheiro, sem censura. E empurrei mesmo. A enfermeira falou pra esperar algumas vezes (duas vezes, eu acho) a contração. Mas eu estava completamente segura do que queria (e principalmente não queria - médico) e sabia que quando eu tava afim de empurrar, eu tinha que empurrar e pronto. Me impus, não avisava/perguntava mais se podia empurrar. Eu simplesmente empurrava quando queria. Acho que a enfermeira percebeu que agora ia, parou de se comunicar comigo e se concentrou em receber Sapinha. Empurrava e gritava como nos filmes (alguém perguntou isso pro marido quando nos visitaram e ele disse foi assim). Foram dois ou três empurrões e ela nasceu. Diz o marido que ela chorou. Eu não lembro.

O nascimento

A enfermeira disse que seriam dois ou três pontos (não lembro quando foi isso exatamente, como disse, lembro dos fatos, das falas, mas não da ordem que aconteceram), mas na hora de fazer os pontos mesmo ela viu que não precisava. Ela também comentou (rindo/sorrindo) que acordaram o médico a toa, eu ri. O clima era outro na sala de parto, era leve, sentimento de dever cumprido (e parto bem sucedido) compartilhado entre todos. Cortaram o cordão. Colocaram Sapinha sobre mim. Disseram que agora tinha que empurrar a placenta. "Com ela em cima de mim?? Não, não! Dá ela pro pai." O marido ficou meio bobo (rs), não sabia o que fazer. Falaram pra ele tirar a camisa. Ele tirou e ia colocar de volta o negócio (aquela espécie de jaleco ao contrário) que estava por cima da blusa (rs), daí disseram que ele tinha que ficar com o torso nu pro pele a pele. Foi um momento lindo, ele amou ter a filha deitada sobre ele, mas pra ser sincera eu não lembro muito, não fiquei muito atenta neles. Estava "in the zone" (rs) super concentrada pra expulsar a placenta. A médica falou que tinha que fazer isso logo, que não podia esperar muito tempo, se não ela teria que intervir e puxar. Eu lembrava que isso era meio mito, tinha lido sobre isso, mas não tinha lido o suficiente pra argumentar direito e estava muito cansada pra isso. Então me preocupei em empurrar de novo e direito e rapidinho a placenta estava fora. Ela checou pra ver se estava tudo ok e a placenta estava inteirinha! Nada ficou lá dentro.

Enquanto isso o marido acompanhava os procedimentos com a sapinha, ali na sala mesmo. Pesaram, mediram e não sei mais o que fizeram. Perguntaram o nome dela: Chloé. O marido a vestiu, as roupas imensas! Perguntei que horas eram, elas responderam que eram sete e pouco (não lembro), mas que Sapinha tinha nascido as 6:51. Era o que eu queria saber de verdade. Colocaram ela de volta em cima de mim, ela procurou o peito e mamou. Não sei nem se saiu leite (colostro). Eu estava bem emocionada. O marido também. Ela era pequenininha, linda, perfeita. 

Amamentando pela primeira vez

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Relato de parto, parte II



Continuando...


A primeira parte do relato se encontra aqui: Relato departo, parte I. Não deixe de ler antes dessa continuação.

Já era dia 08... No caminho para o hospital o marido perguntava: "Quer que pare durante as contrações?" "Não precisa, só quero chegar logo, não aguento mais as contrações, só quero ter essa menina logo!". Dessa vez entramos no estacionamento da emergência. Interfonamos e eles perguntaram o que era. O marido não sabia muito o que responder "minha mulher ta parindo. Eu acho" (rs). Eles abriram a porta, mas a gente tava meio longe e até chegar lá, a porta fechou. Tivemos que interfonar de novo. "Oi, sou eu de novo, com a mulher tendo o bebê. É que a gente não entrou rápido e a porta fechou." A porta abriu, a gente entrou e fomos até a secretária. No caminho parei algumas vezes, por causa das contrações, agachei, marido segurava minha mão.

De novo sala de espera, secretária, marido respondendo as perguntas. Ela até brincou que eu não falava nada. Expliquei que as contrações estavam doloridas e que precisava me concentrar enquanto elas atingiam o pico e passavam. Eu ignorava o mundo exterior. Mesmo com a secretária (e depois a enfermeira) fazendo as perguntas e o marido respondendo, a cada contração eu pegava a mão dele e olhava pra ele. E ele olhava pra mim e me ajudava a respirar e me dava força. Naquele momento, o mundo girava em torno de mim, tudo era por e para mim, principalmente o marido.

Não sei se todas as mulheres se sentem assim, ou se permitem sentir, mas eu ignorava completamente a enfermeira durante a contração. Ainda bem que o marido estava lá, eu estava sendo meio grossa, eu sabia, mas não liguei pra isso. Perguntei pro marido se tinha sido rude, ele disse que sim, eu pedi pra ele explicar pra enfermeira, pra se desculpar em meu nome... e ele disse pra eu não me preocupar. Ufa! Voltei pro meu mundinho e a me preocupar comigo.

Dá um sorrisão!! Olha o barrigão!! #sqn

Novamente checaram os exames feitos no pré-parto, controlaram as contrações e batimentos cardíacos do bebê, fizeram exame de toque. 4cm! Pode ficar no hospital. Ela perguntou se era certeza que eu não queria a peridural. Eu falei que sim, que tinha certeza. Quer dizer, a princípio sim! Posso mudar de opinião, né? Ela respondeu que claro, que era só uma questão de onde me instalar: sala de parto natural ou sala de trabalho natural. Eu confirmei, não queria anestesia. Ela perguntou se eu queria entrar numa banheira. Siiiim, pelamordi, só penso nisso a horas!! Ela então avisou no serviço o número da sala a preparar e pediu para encherem a banheira.

Pra fazer o exame e o monitoramento você já tira a roupa toda e coloca um lençol por cima, pra não ficar exposta, nem com frio. A sala para onde eu ia era do outro lado do corredor, então ela perguntou se eu queria me vestir. Eu realmente não ligo pra essas coisas. Juro que só uso roupa mesmo por convenção social, porque detesto! Nessa hora, que eu só pensava em mim, até parece que eu ia me vestir de novo (rs). Fui enrolada no lençol mesmo. Afinal, eram 2 da manhã e eu não tinha visto ninguém além da equipe médica. Mas eu lembro de parar no meio do corredor e agachar para mais uma contração. Marido agachou comigo e a enfermeira (super atenciosa) me cobriu com o lençol que tinha caido, pois eu soltei pra segurar a mão do marido.

Me levaram para uma sala toda bem equipada e a enfermeira (ou auxiliar de enfermagem, mais provável) foi encher a banheira. Me perguntou da peridural e percebeu que me levou pra sala errada, de pré-trabalho. Quando estávamos quase saindo para ir pra sala certa eu voltei pra ter mais uma contração. Pelo menos estava numa sala fechada, não tinha problema o lençol cair.

Fomos então para a sala certa, que era igual a anterior. Não entendi muito bem porque uma e não outra, mas também não fiquei analisando. A banheira já etava cheia e com água quentinha. Alias, quentona!! Não consegui nem entrar! Foram esfriando pra mim e entrei na banheira. Essa moça que veio comigo se despediu (ela era do outro serviço) e disse que logo logo a enfermeira que cuidaria de mim viria.

"Relaxando" na banheira

Poucos minutos depois chegou a enfermeira (Juliette) acompanhada de uma estagiária (Pauline). Se apresentaram, perguntaram se a estagiária poderia acompanhar o parto, perguntaram se eu precisava de alguma coisa, avisaram que eu não poderia beber água (mesmo sem anestesia, pois nunca se sabe se eu precisaria de uma cesárea de urgência) e que voltariam em duas horas, mas que eu poderia chamar se precisasse, quando precisasse.

Durante duas horas eu fiz tudo o que o meu corpo pedia. Fiquei na banheira, troquei de posição, sai da banheira, andei, sentei no chão (o marido corria atrás de mim e colocava toalhas no chão pra eu não ficar em contato direto rs), deitei, fiquei de quatro, de cócoras, voltei pra banheira, sai da banheira... O marido me acompanhava em cada contração. O tempo parecia não passar. Eu não aguentava mais! Dizia que queria desistir, que isso não era pra mim. Pedi pra fazer uma cesárea. Eu só queria dormir. Eu dizia que era fraca, que não ia conseguir. Ele dizia pra eu olhar pra ele, pra respirar com ele. Dizia que eu era forte, que eu conseguia sim. "Olha pra mim", "Respira comigo", "Só mais um pouco", "Não, não, não, você é forte, olha pra mim"... Ele foi maravilhoso! Durante a gravidez nós tivemos algumas conversas sobre esse momento. Eu falei pra ele como agir comigo e o que eu precisaria que ele fizesse (basicamente me fazer olhar pra ele e me fazer acompanhar a respiração dele, me concentrar nele até a contração passar) (se quiser ler mais sobre isso: Enfrentando a dor do parto).

Nos intervalos ele enviava mensagens a minhas irmãs contando como estavam as coisas. Na verdade não lembro dele enviando nada, mas em um dado momento ele me mostrou varias fotos da minha família me dando força. #vemChloé Fiquei muito emocionada de saber que lá do outro lado do oceano estavam todos pensando em mim (em nós), vibrando, enviando energias positivas. Me senti amada, empoderada.

E mais contrações... e mais dolorosas... e mais contrações... e muito cansaço. 4 da manhã e elas voltaram para acompanhar o trabalho. Exame de toque e.... "Você está com 4cm e meio". O que????? Como assim?? Só de lembrar eu volto pra emoção do momento e quero chorar! Depois de duas horas de muitas e dolorosas contrações, eu dilatei meio centímetro?? Eu não tinha mais forças, nem de onde tirar. Lembrando que eu já estava a 44 horas acordada! Eu não chorava, pois nem pra isso tinha forças. Desisti completamente e pedi pra ter a anestesia.

Depois disso, eu não conseguia mais controlar contração/dor alguma. Incrível como a mente é poderosa. Até então, as contrações eram dolorosas, muito! Mas eu conseguia enfrentar e passar por elas. A partir do momento em que eu pedi a anestesia, não adiantava mais o marido pedir pra olhar pra ele, pra respirar, eu simplesmente não conseguia mais me concentrar em outra coisa. A dor me tomava por inteira e parecia não acabar. Apesar de eu ter inteira consciência de que a dor em si não era maior e que a 5 minutos atrás eu conseguia suportar, eu não me sentia mais capaz.

Entre a decisão (falei pro marido, que chamou as enfermeiras), a chegada da enfermeira, o preparo da sala (outra sala, a sala de parto normal) e a vinda da anestesista, pareciam séculos! Mas foi algo entre 15 minutos e meia hora. Lá fui eu pra sala de parto sozinha (marido não pode acompanhar a anestesia em si), mal enrolada no meu lençol, morrendo de medo da temida peridural...

Mas isso fica pro próximo post:
Relato de parto Chloé - parte 3
+
Considerações sobre o parto da Chloé

E se você não leu o começo do relato de parto da Chloé:

 
E aqui o relato de parto da Emma:

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Adeus ano velho…



 

Feliz ano novo!


Na meia noite da virada de 2014 pra 2015 eu, como todos os anos, agradeci por todas as conquistas e não conquistas do ano que passou, pelas alegrias, pelos aprendizados, pelos desafios, pelo amor que eu tive e que eu pude dar... e pedi para que o ano que estava começando fosse ainda melhor. Eu estava em Paris, com o marido e a irmã (uma delas), feliz, muito feliz por tê-los ali comigo. Eu amo muito a minha familia e ter ela ali deixou meu comecinho de ano maravilhoso.

No final de feveiro, inicio de março vieram a desconfiança e a certeza de uma gravidez não planejada, mas muito desejada (pelo menos por mim). Sempre quis ser mãe! Mas aquele definitivamente não era o momento. Estava terminando um doutorado, desempregada e com marido desempregado. Algumas vez eu secretamente pedi para a gravidez não vingar... e muitas outras mais pedi desculpas, pedi pra ela ser forte, disse que ela tinha sido muito desejada e pra ficar tranquila que logo logo esse momento de susto ia passar.

Digerimos a notícia, cada um no seu tempo, e numa manhã de domingo conversamos sobre o presente que estava por vir. Pensamos em como ela se chamaria (a gente tinha certeza de que era menina e nem discutimos nomes de meninos)... e decidimos nesse dia mesmo contar a todos a novidade. Primeiro minha mãe, depois meu pai e minhas irmãs, os pais dele... Só de pensar nesse dia já me dá uma alegria, uma vontade de chorar... Esse foi sem dúvidas o dia mais feliz da minha vida. Nada nesse mundo é mais prazeroso do que dar alegria aos outros. E nossa, quanta alegria, quantas lágrimas de felicidade, quanta emoção!

Depois veio a viagem pra Disney, pra comemorar minha sapinha e muitas outras realizações que estavam acontecendo na família. Nessa viagem eu andei de montanha-russa, comprei umas roupinhas, fui muito mimada e ganhei muitos presentes pro Léon. Sim, um menino, quem diria, foi o que o teste de farmácia disse. Eu chorei e passei o dia triste, fazendo o luto da minha menininha tão sonhada. Pedi desculpas ao meu menino por me sentir assim e comecei a investir nessa nova relação.

Depois fomos a Bretanha, novo trabalho do marido, na cidade onde ele cresceu, do outro lado da França. Fiz minha segunda eco lá e descobri que era menina! É menina! É menina! É menina! Eu passei o dia nas nuvens! Minha garotinha! Minha garotinha! É menina! É menina!

E de volta a Metz, pois o trabalho do marido não estava legal. Volta ao trabalho anterior, pois não tinha como fcar sem nada. E barriga crescendo... e minha pequena se desenvolvendo. Eu li muito, estudei muito. Estava cheia de certezas e mais cheia de dúvidas ainda. O marido falava pra eu aproveitar a gravidez e o barrigão e eu dizia que faria isso depois que entregasse a tese. Mas minha filha se cansou disso e veio uma semana antes da entrega! Oooops! Devia ter aproveitado mesmo, já que não ia dar pra entregar... Mas como adivinhar? E eu aproveitei sim, como dava e como pude! E apesar de querer voltar pro comecinho de 2015 e viver tudo de novo, não acho que teria feito diferente.

E ela nasceu. Minha flor, meu amor! No começo, o que sentia era puro instinto de proteção. Era um modo meio punk de anulação completa do meu eu para que ela mamasse, crescesse e tivesse todas as suas necessidades (biológicas e afetivas) atendidas nesse comecinho. Sentimento que foi se transformando no maior amor do mundo! Amor que cresce a cada dia! Você acha que é impossível amar mais e aí ela te reconhece! E empurra o corpinho pra te ver! E para de chorar quando ouve sua voz! E sorri pra você! ... E cada dia uma descoberta e mais amor!

E o amor... Vou te falar que o amor que eu sinto por ela transformou todos os outros amores que eu sentia. Agora não só amo o meu marido, mas amo também o pai da minha filha. Não amo só a minha mãe e pai, mas também os avós da minha filha... e por aí vai! Cada um que interage com ela, que ama ela, ganha também o meu amor. E amor quanto mais se da mais se tem.

Assim eu termino 2015... Com o melhor natal de todos os tempos, com grande parte da família aqui! Termino agradecida pelo ano mais maravilhoso que eu tive! E pela primeira vez em muito tempo eu paro no agradecimento. Não quero pedir pra que 2016 seja melhor ainda, pois tenho a impressão de que recebi a maior de todas as bençãos, o melhor de todos os anos, e que pedir mais ainda é sem razão, seria errado, até besteira. Porque 2015 foi o ano da minha sapinha! E 2016 vai ser também! E que ano, daqui pra frente, não será dela?