segunda-feira, 26 de junho de 2017

Considerações sobre o parto



Sobre meu primeiro parto


Quando escrevi meu relato de parto, ficou tão grande que tive que dividir em:

Enquanto eu me preparo pro próximo parto (nascimento da minha macaquinha), eu reli/relembrei... Dai resolvi escrever sobre alguns pontos que por um motivo qualquer me marcaram. Queria compartilhar algumas coisas pra forças a quem vai logo logo ter bebê (eu mesma?).

Primeiramente, meu parto não foi exatamente como eu sonhava. Depois de dois dias sentindo contrações fortes e mais fortes, sem conseguir dormir por causa disso, resolvi tomar a anestesia peridural. Logo eu que militei contra! Ainda sou contra (leia aqui porque) e acho que toda a mulher deve se preparar para enfrentar a dor do parto sem ajuda médica (clique aqui, se quiser algumas dicas). Mas... com o tempo e a cabeça mais aberta, também acho que devemos lembrar que esses procedimentos podem ser necessários.

Encarando as contrações na banheira do hospital

Hoje, passado o nascimento da sapinha, eu tenho certeza de que tomar a peridural naquele momento foi a decisão correta. Mas quero deixar claro, que se pudesse voltar no tempo, teria feito tudo da mesma forma. E indo pro segundo parto, eu novamente digo aos quatro ventos que não pretendo tomar a anestesia! É possível sim passar por isso sem a peridural, é possível sim enfrentar a dor. Quer saber se com aquelas dicas que eu dei (as do link ali de cima) (e usei) a dor passa? A resposta é não. Mas a dor diminui, né? Também não (rs). Mas com essas dicas você supera cada contração e chega do outro lado mais forte. Mas pra isso tem que estar focado!

Porque a partir do momento em que eu quis a peridural, acabou! Eu não conseguia mais chegar do outro lado da contração com serenidade. Perdi o foco completamente e não conseguia mais suportar a dor (que era exatamente a mesma). Sentia pena de mim mesma, chorava baixinho, fazendo biquinho, como uma criança desprotegida. A partir do momento que pedi a peridural, foi como se dissesse a mim mesma que não era capaz. Ali, choramingando, não me sentia mulher e sim menina, queria colo e carinho.

Ou seja, as contrações doem? Doem e doem muito. Mas dá pra enfrentar? Da siiim!! Tem que ter determinação, foco e tem que se preparar. Claro que todo mundo conhece essas histórias de mulheres que começaram a sentir contrações e meia hora depois estava com o filho nos braços. Não é o meu caso. Dizem que o segundo filho nasce mais rápido que o primeiro, se for o caso, eu vou ter minha filha da forma mais natural possível, de cócoras (meu sonho) e pra isso, sem intervenção médica (mesmo que seja no hospital). E olha que eu sou fraca pra dor!! Quando eu era criança fiquei uma manhã inteira em casa, enquanto todos os meus primos aproveitavam a praia, porque eu tinha uma farpa no dedo e meu avô disse que eu só saia depois que ele (ou eu tirasse). Como doia demais (sim, a farpa), eu fiquei em casa! Sim, esse é meu nível de frescura pra dor, farpa no dedo! E mesmo assim, eu sei que sou capaz (todas somos) de encarar as contrações!!!

E continuando nesse assunto de dor, algo que eu tinha muita curiosidade antes, é a dor do parto. Qual é a sensação de ter um bebêzinho lindo saindo de dentro de você? Pois eu digo, de forma bem romântica e floreada: dar a luz é como fazer cocô quando você está bem bem constipada (rs). A sensação é de que o bebê está saindo do bumbum mesmo. Durante o curso de preparação ao nascimento (se quiser ler, tem post aqui - 1, aqui - 2, aqui - 3 e aqui - 4) a enfermeira já tinha falado que não pode ter medo de fazer cocô durante o parto e agora eu entendo porque. Se você ficar "segurando o cocô", vai na verdade estar segurando o bebê lá dentro. Linda essa analogia, né? Mas é bem isso mesmo, e se você ficar com medo de fazer cocô enquanto está parindo (e nossa, muita gente tem esse medo!), você vai estar atrapalhando o nascimento, simples assim! 

E na hora do nascimento mesmo, enquanto o bebê está passando, o que eu senti foi que arde. Arde muito! Mas você esquece, todo mundo esquece... Aquele momento fica misturado com um monte de emoção e sua lembrança acaba sendo um pouco diferente da realidade. É só perguntar pra um casal que estava junto como foi. Com o tempo, a mulher vai (se tudo correu normalmente claro) falar maravilhas, dizer que nem sofreu e tal... E ai, olha pra cara de choque do pai! rs As lembranças dele são recheadas de momentos muito duros, segurando a mão da esposa, se sentindo mal por não poder fazer nada pra ajudar. Meu marido mesmo diz que nunca me viu sofrer tanto...

Isso me marcou, porque logo depois do parto eu lembro de virar para o marido e dizer: "Juro que não entendo como uma mulher pode ter coragem de passar por isso duas vezes". E poucos dias depois eu já tinha mudado de ideia. A perspectiva simplesmente muda por causa da emoção do momento (lembranças são sistematicamente distorcidas de acordo com a emoção que sentimos durante a experiência) e você esquece de tamanha dor... No fim, a dor do parto parece algo possível de encarar. Tanto é que aqui estou eu de novo, pra dar a luz a uma segunda menininha! Receosa e com medo? Sim, mas sabendo que é possível e que a gente só sai mais forte disso! Como mãe e como mulher! Eu posso e você também!

Assim que nasceu, já veio para os meus braços

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Roupa de menina x Roupa de menino



Por que são tão diferentes?


É menino ou menina?

Homem e mulher são diferentes? Siiiiiim! Mas essas diferenças são em sua maioria socialmente construidas? Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim também! Sim! E sim! Hoje eu li mais um exemplo de como a gente diferencia menino e menina sem nem perceber. Quer dizer, eu li artigo apontando mais uma diferença, uma que eu pelo menos nunca tinha pensado sobre e quero trazer a discussão pra cá também. Vamos falar sobre roupas de meninos e roupas de meninas?

Vamos começar com o básico, entre numa loja qualquer de roupas de bebe e diga que está procurando um pijama pra um bebê de 3 meses, por exemplo. Qual a primeira pergunta? “É menino ou menina?” Sério mesmo que é necessário classificar pijama de bebê nessas duas categorias? Ai você vai olhar... Os de meninos tem cores variadas, vermelho, azul, verde, branco... com desenhos de bichos, números, nuvens, enfim! Já no da menina... Você encontra uma bela seleção de tons de rosa diferentes e branco (com detalhes em rosa, claro), com estampas de coração, bichinhos que passaram rímel (só pode pra terem os cílios desse tamanho), sempre muita docura contrastando com as estampas divertidas propostas pros meninos.

De modo geral, eu achei (e ainda acho) uma dificuldade comprar roupas mais neutras pra minha filha. Quando ela era menorzinha acabava sempre na seção de meninos. Até hoje olho as lojas como um todo e geralmente me agrada mais a seleção pros garotos!

Mas esse ponto da pequena bebailarina acho que todos já devem ter notado. Algo eu eu nunca tinha percebido e agora tem me chocado é o tamanho das roupas pra meninos e meninas. Hoje eu li um artigo sobre uma mãe, Sharon Choski, uma americana que tinha dificuldades pra encontrar roupas pra sua filha de 4 anos, que queria algo simplesmente confortável! Sem frescuras, sem laços, sem rendas e, especialmente, sem gliter. Pior ainda era encontrar shorts que não fossem nem muito apertados, nem muito curtos.

Elas acabavam comprando na seção de meninos, mas as roupas de meninos também não caiam muito bem. O corte acaba sendo mais comprido, mais largo... Dai ela fez uma pesquisa em grandes lojas americanas e começou a realmente comparar as roupas e olha só o que ela constatou:

Diferença de tamanha em roupas de meninas e de meninos

Pra crianças do mesmo tamanho e idade, as blusas de meninas tem mangas, em média, 36% mais curtas que as de meninos. Os shorts, então, tem 1/3 do tamanho do dos meninos! E isso não tem nenhuma relação com o tamanho real de meninos e meninas, até por que entre 8 e 12 anos, de modo geral meninas são maiores que meninos, porém as roupas...

Essa mãe lançou sua própria linha de roupas, em 2013, que pode ser acessada nesse link aqui: Girls Will Be. De lá pra cá ela observou o esforço das grandes marcas em propor algo que fosse além da temática princesa pras meninas. Já a questão do tamanho...

Linha de roupas Girls Will Be no meio

E ai eu faço a reflexão (e queria a opinião sincera de outros pra saber se não estou exagerando). Não seria essa diferença ligada a uma sexualização precoce das meninas?

E agora quem tem coragem de dizer que muuuitas as diferenças entre meninos e meninas não são (em maioria) influenciadas pela sociedade? 

Como esse fator “bobo”, pouco notado, é vivido pelas nossas meninas e meninos? 

E se quando a menina (mulher) estiver de short curto e sofrer uma agressão (um assobio na rua, um comentário inapropriado), vão dizer que ela usa roupa assim porque quer?

Não tenho respostas, ainda estou digerindo a informação... Por isso jogo a bola pra quem está lendo. O que você acha?? O que podemos fazer sobre isso?

*****

- O artigo que me inspirou a escrever esse post pode ser lido aqui (em francês).

- A loja dela pode ser acessada aqui (em inglês).

segunda-feira, 12 de junho de 2017

O nascimento e a crise no casal





Ou... o nascimento da crise no casal


 
O nascimento de um filho gera um momento de crise na vida do casal. Necessariamente. De todos os casais. Sim, 100%. Nesse post vou tentar explicar um pouco como e porque isso acontece. Uma questão muito complexa, que eu espero pelo menos tocar a superfície.

Vamos lá, então. O que acontece? Quando nasce um bebê (e possivelmente até antes do nascimento em si) ambos os pais ganham uma nova identidade. Ele não é mais só o marido dela. Ela não é mais só a esposa. Ele é também pai do filho dela e vice-versa. O que significa que além de me relacionar com o meu marido, com todas as expectativas que eu tenho em relação a como um marido (e mais especificamente como o meu marido) deve ser, se comportar, me tratar, etc., eu também me relaciono com o pai do meu filho. Entram então novas expectativas em relação a essa pessoa surgem. Durante o casamento, namoro, amizade... a gente aprende a conviver com esse parceiro. Aprendemos quem é esse com que me relaciono, o que ele pode me dá, o que posso esperar dessa relação e durante todo esse tempo em que a gente se conhece e convive, eu decido diariamente construir com ele essa relação única, com todas as particularidades que ligam essas duas pessoas dessa forma específica.

Veja bem, cada relação é única e diferente, mesmo com as mesmas pessoas envolvidas, pois eu sou um ser diferente de acordo com o meu interlocutor. Claro, sou a mesma pessoa e guardo meus valores e caracteristicas independente do ambiente que estou e do papel que estou cumprindo. Mas, a forma como eu lido com minha mãe é necessariamente diferente da forma como eu lido com meu chefe. Como eu me relaciono com esse chefe é diferente de como eu me relacionava com o anterior. E a forma como me relaciono com o meu parceiro é diferente dos outros. Isso se dá porque sou um ser humano relativamente bem adaptado. A Carolina filha é diferente da Carolina irmã, que é diferente da Carolina esposa, pois a pessoa com quem me relaciono é outra, as necessidades de cada relação são diferentes, as pessoas são diferentes... Todos somos assim.

Então voltando a relação de casal, que durante um certo tempo se estabeleceu e se moldou, estremece no momento que chega um novo elemento. Eu aprendi a conviver com o meu marido, mas ainda não aprendi a conviver com o pai do meu filho. E é ai que chega a crise, entende? Porque uma nova “pessoa” está na minha frente, ou melhor, uma nova identidade surge nessa pessoa com quem eu convivo e aprendi a conviver durante todo nosso tempo de relação. Mas não é só isso. Essa nova identidade pode vir se contruindo durante a gravidez, em maior ou menos escala, dependendo das pessoas. Mas com a chegada do bebê alguns elementos complicadores entram na equação.

Não somente eu tenho que redescobrir quem é essa pessoa na minha frente, mas eu tenho que fazer isso num dos momentos mais fisica e emocionalmente esgotantes que uma pessoa pode viver. Olha o desafio! Só quem está cuidando de um bebê recém-nascido nesse momento tem a real dimensão do quão exaustivo isso é. Digo isso porque (1) eu me lembro sim, claro, do quanto é difícil, mas a lembrança é algo que se altera no tempo, se relativiza com as diversas emoções que a gente vai sentindo e a medida que a relação evolui. E (2) antes do bebê nascer eu já esperava tudo isso. Mas nem de longe a expectativa e a lembrança são tão pesadas quanto o momento em si. São noites e noites sem dormir, com um bebezinho sugando toda a sua energia (literalmente). São dias e dias de choro que parecem nunca acabar. Momentos de enorme solidão e sofrimento, por mais que você tenha o parceiro dos parceiros e uma super estrutura, o que você vivencia é permeado dos mais negativos sentimentos. E isso, a gente não lembra, a gente não espera... não tanto, não dessa forma.

Esse esgotamento do papel de mãe talvez seja maior que o do pai. A mãe, de modo geral, ainda é o cuidador principal do bebê. Sendo muitas vezes mãe e somente mãe 24 horas por dia. Enquanto o pai, também muito cansado, tem que voltar pro trabalho e durante essas horas por dia, ele assume um outro papel. Aqui não estou querendo dizer que o homem está em menor sofrimento ou desgaste que a mulher, mas simplesmente que ele é forçado a viver um outro papel durante um periodo do dia e que por isso, ele tem esse respiro do papel de pai. Porém, a vivência de cada um é única e ninguém deveria (se) julgar como mais ou menos cansado. Mas quando a gente chega no limite, isso é muito mais difícil e eu fui a primeira a achar que talvez meu marido deveria ajudar mais. Mesmo que racionalmente eu soubesse que ele estava fazendo o máximo dele, mesmo que eu soubesse que ele também estava esgotado e no limite, ainda assim eu sentia que ele deixava a desejar. Veja bem, sentimento, sensação, filtrados pelo meu olhar cansado, super cansado.

Somado a isso, tem também a adaptação ao bebê em si, ao bebê real, que não é aquele que estava na minha barriga. Ok, fisicamente é a mesma pessoa, mas antes de nascer esse bebê já existia no imaginário e quando ele nasce, é necessário fazer o luto desse bebê perdido e aprender a conviver com esse bebê real. Isso é algo natural, pois esse bebê é um individuo, um todo, um inteiro, com suas necessidades próprias que vão muito além da pessoa que a gente imaginou quando era criança brincando de boneca, do bebê que cresceu e tomou forma na nossa cabeça, enquanto se desenvolvia na nossa barriga.

Todos esses aprendizados são duros. São muitas novidades que a gente tem que se adaptar e aprender a lidar de um dia pro outro. E aqui vou acrescentar um último fator pra deixar tudo ainda mais difícil: aquela loucura hormonal que acontece no pós-parto, deixando a mulher (e possivelmente o homem, tem um estudo apontando isso) muito mais sensível.

No meio desse turbilhão, redescobrir quem é esse parceiro, nesse novo papel, essa nova identidade, não é a coisa mais simples do mundo. Por isso essa crise, como toda crise, vai gerar consequências importantes, mas não necessariamente negativas. Já li um estudo inglês que dizia que 80% dos casais pensa (não necessariamente verbaliza ou age) em se separar após o nascimento do filho - eu faço parte desse grupo. 40% acabam se separando mesmo após o nascimento. Isso mostra o quanto é difícil esse período na vida do casal. Porém, o outro lado da moeda é o fortalecimento da relação. Aqui me baseio na minha relação pessoal e de outros casais com os quais já discuti o assunto. Passada a turbulência, reconstruimos nossa relação e ela nunca foi tão sólida. O que eu tenho com ele hoje, eu nunca tive com ninguém. É uma cumplicidade que passa de longe qualquer outra relação que eu já tenha vivido, inclusive com ele mesmo.

Mas essa vivência positiva de hoje não exclui as dificuldades que passamos.  Um outro bebê está vindo por ai, uma nova crise está vindo por ai. Estamos mais preparados, claro, mas agora serão 2 e o nível de dificuldade vai, consequentemente, aumentar. Espero sair ainda mais forte!


segunda-feira, 5 de junho de 2017

10 meses...



Ou melhor, quando descidimos que queremos mais filhos...


É com lágrimas que chegamos aos 10 meses da minha sapinha. A vida muda completamente depois que a gente tem filhos. Choro de emoção, sem dúvidas, mas o que move essa emoção? Estou feliz como nunca pensei que pudesse ser. Descobri que a felicidade é feita de uma sequência de momentos de alegria. Sabe aquele sentimento de quando você quer fazer aquela viagem e compra a passagem? Quando finalmente passa no concurso? Quando recebe um 10 naquela prova difícil? Ou quando recebe flores? Com um bebê em casa isso acontece todo o dia, várias vezes ao dia. Quem consegue ouvir as gargalhadas da flor sem abrir um sorriso? Como não comemorar o primeiro passinho que ela deu? E sim, ela deu seus primeiros passinhos sozinha. Com um bebê é alegria atrás de alegria, me deixando num looping eterno de felicidade. Só de pensar nela, são sorrisos e lágrimas por essa benção que é a minha pequena. Ao mesmo tempo, enquanto olho ela dormir, vejo o quão rápido ela está crescendo. Todas essas pequenas conquistas não serão feitas novamente. Nunca mais ela vai aprender a rolar, a engatinhar... Por mais que eu tente estar presente, tem sempre aqueles momentos mais avoados, mais negligentes, momentos em a gente perde a paciência, as várias vezes em que disse: “Espera, flor!”, “Agora não”, “Já chega de choro/grito”... No final do dia, as lágrimas caem por conta de todo esse tempo que não volta. Não chegam a ser lágrimas de tristeza, no fim do dia, sei que fui a melhor versão de mim mesma para ela, são lágrimas de saudades. Saudades que eu sinto mesmo estando presente, mesmo com ela do meu lado.




É tão difícil ver ela crescendo, que durante quase um mês eu só consegui escrever um parágrafo. Volto hoje pra terminar, quando ela está (quase) completando 11. Talvez seja algo pelo qual toda mãe passe? Ou pelo menos toda mãe de um só filho? Acredito que sim, pelo menos no meu caso. Digo isso porque só consegui voltar a escrever agora, alguns dias depois de uma séria conversa, seguida de uma séria decisão tomada com o marido: teremos mais filhos.

Quando eu engravidei da minha sapinha foi bem sem querer. Eu sempre quis ser mãe, mas o marido não queria ser pai, nossa vida era maravilhosa do jeito que era. Quando a flor nasceu e até pouco tempo atrás não existia possibilidade nenhuma de um segundinho. O que pra mim estava ótimo, por toda minha vida me imaginei mãe de uma (e só uma) menina. Até que algumas pessoas comentaram que ser filho único é viver meio sozinho. Me fez pensar no quanto a minha relação com minhas irmãs é especial. Por mais que eu tenha amigas-irmãs, amigas comigo a mais de 25 anos (pasmem!), por mais que a relação que eu tenha com elas seja incrível, não é igual a que eu tenho com minhas irmãs. Ai o marido que veio dizendo que não seria ruim se eu engravidasse de novo, que não seria ruim se tivéssemos dez filhos. Eu achei que ele estava brincando e ri. Mas isso tudo ficou martelando... Eu estou completamente satisfeita com a maternidade, a flor é definitivamente a coisa mais importante e mais maravilhosa que já me aconteceu. Ela merece ter alguém pra dividir o quarto, os pais...

Voltei no assunto com o marido. Quando você brincou sobre os dez filhos, isso era sério? Ele riu, disse que dez filhos era uma brincadeira, mas porque não mais um? A gente poderia chamar de número dois. Passamos alguns dias falando sobre o assunto, pesando prós e contras. Passamos dias revivendo a descoberta da minha gravidez, as difculdades dele e todas as mudanças que a vinda dela trouxe para nós. Nunca tínhamos falado tão abertamente sobre o assunto. Era meio tabu entre a gente por razões óbvias. Mas entre as muitas conquistas da flor, durante esses (quase) 11 meses de crescimento dela, evoluiram também as diferentes relações existentes, não somente com a flor, mas também todas as relações entre as pessoas próximas a ela. É impossível ter filhos e não analisar sua própria relação com seus pais (assunto que gostaria de voltar em um outro post). A relação com o marido também passa por essa reviravolta e é necessário reinventar o casamento (assunto também merecedor de um post só pra ele). O fato é que hoje, nos (quase) 11 meses da sapinha, minha relação com o pai nunca esteve tão sólida. Eu tenho um verdadeiro companheiro. Somos parte um do outro. Eu me sinto assim, ele se sente assim. E sente que ser pai foi a transformação mais maravilhosa na vida dele também. Ele também nunca esteve tão feliz. “A flor merece uma irmã. Mas tem que ser logo, elas tem que crescer juntas, brigar e brincar juntas.” Desde então, a sensação de ver a flor crescendo também mudou. Vamos viver tudo de novo. Tudo novo, de novo.