Primeiros contatos, primeiras dúvidas
Aqui na França tem isso de "aula de preparação ao
nascimento". São 7 aulas ao todo que abordam a gravidez, o parto e o recém-nascido,
oferecidas gratuitamente a todas as futuras mães.
A primeira aula foi ontem, no hospital (são sempre no
hospital). Primeiro contato com o hospital onde terei a bebê. Quer dizer,
primeiro contato com a bebê, para a bebê, sobre a bebê, pois já conhecia o
hospital antes, por conta do trabalho. Engraçado que chegando lá eu senti uma
certa emoção, minha bebê ainda mais presente, mais real. Estava ali para ela,
me preparando para o nosso encontro. Ou nosso reencontro, pois nosso primeiro
encontro já aconteceu a muito tempo e durante esses meses de contatos (5 meses
e 10 dias) temos nos conhecido. Eu conheço bem pouquinho dela e ela me conhece um
pouco melhor. A partir das minhas emoções já sabe o que eu gosto, o que me deixa
feliz, o que me deixa triste...
Enfim! Nos preparando, nós duas pois ela também se
prepara, para esse encontro, seguido de separação, seguido de encontro. Seremos
separadas para nos unirmos como mãe e filha. Eu me preparando para recebê-la,
ela se preparando para me receber.
A aula em si foi um tremendo tira dúvidas de várias mães
de primeira viagem, eu a mais virgem entre elas. Nos apresentamos, apresentamos
nossos bebês (quanto tempo de gravidez, sexo…). Vi todas as mulheres barrigudas,
todas maiores que a minha, inclusive aquelas com menos tempo de gestação
(claro!). Eu era a única ali que não parecia estar grávida. E eu tão inexperiente,
tão "não grávida", que nem dúvidas eu tinha. Se todas queriam
respostas, eu queria perguntas. Sabe aquela aula de matemática que você está tão
perdido que nem dúvida tem? É isso! Tão verde, tão sem conhecimento, tão esperando
o crescimento (da barriga, da mãe... Porque mãe sabe das coisas, né? Então ainda
to esperando esse meu eu se desenvolver). E assim, coisas que nunca tinha
pensado, dúvidas dos outros, viraram curiosidades minhas, perguntas minhas,
inquietudes minhas.
Inquietudes e medos que não tinha ou nem sabia que
podiam existir antes de vir. Reeducação do períneo, por exemplo. A enfermeira
recomenda que todas as mulheres façam, a partir de um mês depois do parto.
Reeducar o que? e por que? Não tive coragem de perguntar, mas me soou estranho
e me deu uma vergonha de pensar na possibilidade de ter que reeducar esses músculos/parte
do corpo. Que problemas será que terei para ter que reeducar? Será que vou
perder o controle do xixi? Disseram que isso acontece e parece assustador! Vou
ter que ensinar a dois a ir ao banheiro? Além disso, ela também disse que ter um
períneo musculoso, fazer exercícios, não necessariamente ajuda na hora do
parto, pode "prender" o bebê em alguns casos... tão estranho e
diferente do que a gente ouve, que teríamos que fazer exercícios para essa
musculatura, ao longo dos nove meses.
E o corpo que não volta ao que era? Os seios e barriga
que ficam com menos tonicidade. Parece feio admitir que esse é um dos meus maiores
medos, mas eu sempre adorei minha barriga, meus seios... e eles nunca mais serão
mais os mesmos. E o pior é que parece que agora todas as outras mulheres estão
adorando o corpo nesse momento! Só eu que não, e se eu já acho tão imperfeito
agora, imagina depois? Quando não só eu perder o que tenho de agora, mas não
ver voltar a ser o que era? Que medo! E ao mesmo tempo, que vergonha! Muita
vergonha dessa vaidade. Num momento que deveria ser só felicidade (felicidade
meio imposta pela sociedade, de que a gravidez tem que ser cor de rosa), cá estou
pensando nas deformidades que terei (ou não, torçam por mim) depois da gravidez…
E depois do medo, vergonha, sinto raiva! Olha que loucura: sinto medo, por
sentir medo sinto vergonha, e por sentir vergonha sinto um pouco de raiva.
Raiva pois prometi a mim mesma me autorizar a sentir tudo o que eu estiver
sentindo, sem censura. E finalmente me sinto culpada por me preocupar em me
deixar sentir o que estou sentindo e o que não estou sentido. Que confusão de
sentimentos que é uma grávida, que é um ser humano...
Medos, inquietudes… e ainda nem falei pro grupo que não
quero peridural, que quero um parto natural, com o mínimo de intervenção, que
gostaria de parir de cócoras, será que é possível nesse ambiente tão cheio de
procedimentos padrões. Não tive coragem de perguntar, não era o momento. Era
tantas coisas novas, que o tempo passou e eu não perguntei. Quem sabe semana
que vem?
Então terminamos a aula com um momento de relaxamento.
Não segui nada do que estava sendo falado, nem conseguia escutar a voz da
enfermeira nos guiando. Aproveitei para ficar com minha bebê. Ali, durante
aqueles 15 minutinhos deitada, com música de natureza, éramos só nós duas, não
existia enfermeira, não existia calor (muito calor!!), não existiam outras
mulheres na sala, alias não existia sala e não existia hospital, estávamos sós!
Então aproveitei para comunicar o quanto eu a amava e o quanto ela era esperada
(apesar de não planejada)! Uma espera, um desejo de uma vida inteira. Até me
emocionei e prometi a mim mesma, a nós, que teríamos esse momento só nosso
todos os dias! Mesmo que rapidinho, mesmo que só um pouquinho...
Mais uma vez, um texto tocante, emocionante e lindo!!! Amando o blog!
ResponderExcluirQue bom que esta gostando!!! :)
ExcluirMeu, eu nunca engravidei na vida, mas tenho supervontade daqui a alguns anos e pode bem ser que seja na França, já que meu marido é daí e nós temos vontade de voltar.... mas assim, não se culpa por sentir essas coisas. Sim, as mães são cobradas demais, julgadas demais, e essa coisa de "num momento que deveria ser só de felicidade", sinceramente, é bobagem. Não deveria ser nada, você tem absoluto direito de sentir tudo o que você sente, você não deixa de ser mulher ou ser humano cheio de dúvidas no momento em que engravida. As pessoas ficam morrendo de culpa de não sentir ou sentir e gente, quanta pressão a sociedade coloca em cima de vocês mães, que já estão passando por tanta coisa! Acho de uma ignorância infinda. Teve um dia que conversei cm uma mãe de uma menininha de 6 meses e ela me disse, "pois é, eu não fiquei muito feliz, não era o momento, não era planejado, e hoje me sinto meio presa à bebê, realmente preferia não ter tido". E eu apenas ouvi, acolhendo o que ela tava me dizendo porque se sentiu à vontade e coitada, a gente mal se conhecia, ela tava precisando desabafar. Imagina o quanto de gente não pensou que ela estava com algum problema, depressão pós-parto, ou o que quer que seja que não estivesse se sentindo PLENA com a gravidez? É difícil, cara.
ResponderExcluirMas muito legal seu blog! Vou acompanhar sempre! Curta muito esta fase =)
Super recomendo vir, pricipalmente se vc não sonha com uma cesaria programada! Não conheço a realidade do Brasil, porque nunca engravidei / tive bebê por la, mas pelos relatos, agradeço por estar aqui e pela sorte que dei de ter um hospital em sintonia com meus planos (não são todos).
ExcluirEu concordo totalmente e racionalmente com o seu comentario sobre os sentimentos. Não deveria ficar chateada de sentir o que sinto, mas como controlar? Independente da graviez, quantas vezes não somos consumidas por algo que não gostariamos de sentir (ou achamos que nao deveriamos) e nos sentindo mal por isso, ficamos ainda mais tempo sentindo, porque nos focalizamos nisso? Mas vou tentando acertar e aceitar o que vier... :)