segunda-feira, 15 de maio de 2017

Sobre o amor…



Amor?




Ah, o amor!! Quantos suspiros... Mas não, esse não é um texto água com açúcar no qual eu declaro todo o meu amor pela minha sapinha! Sabe aquela coisa: “minha princesa, no momento em que te vi, nunca senti tanto amor no meu coração”? Pois bem, não é nada disso! Se engana (ou mente?) quem diz que sentiu o amor maior do mundo por essa pessoinha no momento do nascimento, ou quando soube da gravidez, ou quando ainda sonhava com a gravidez! Vou explicar o que quero dizer, mas vamos aos poucos.

O amor durante a gravidez (e antes...)


Eu sempre quis ser mãe. Quando eu era pequena, sonhava com a minha menina. Eu brincava de boneca e amava minha filha naquela brincadeira, amava mesmo! Depois de grande continuei sonhando com minha menininha, amando a minha futura pequena... Engraçado que nunca sonhei com a familia perfeita, nunca me vi casada, mas sempre me vi com minha menina. Eu fechava os olhos e via a gente conversando, brincando, brigando... Como eu amava essa menina!

Então eu fiquei grávida. Foi um susto! Mas passado o choque inicial, lembrei da minha boneca, de tudo aquilo que eu imaginei pra mim, pra ela... Curti a gravidez, fiz carinho na barriga, amei aquela que estava na minha barriga, amei muito!

Pera!!! Que amor é esse? Eu não disse ali em cima que se enganava quem dizia que amava desde tão cedo?

Ai é que está a questão. Eu não amava a minha sapinha. Como amar alguém que você não conhece? Que não existe? Eu tinha muito amor dentro de mim sim. Muito amor direcionado pra minha filha sim, mas não pra minha filha real, não para a filha que eu tenho hoje. Eu amava, eu amei, minha filha imaginária, imaginada, aquilo que eu achava que ela era, que ela seria.

Mas esse amor, por essa filha que não existe, nem nunca vai existir, é super importante. Ele foi sentindo por mim e por todas as pessoas que já amavam minha pequena antes dela chegar. Esse amor, a gente coloca num cofrinho e guarda. Porque amor é investimento!

E então ela nasceu.

O amor instantâneo no nascimento


Esse é mais um que não existe. Pelo menos não pra mim e (imagino) pra muitas outras mães. Logo depois do parto colocaram minha pequena sobre mim. Hoje, quando eu vejo as fotos, eu tenho vontade de chorar, levada pela emoção do momento. Se me perguntarem, eu falo do choque emocional, do amor instantâneo que senti la naquela hora, mas esse é o amor que eu sinto hoje, que contagia e impregna a memória daquele momento. Por isso é tão dificil perceber (aceitar, lembrar?) que no momento em si do nascimento, aquilo não era amor pela minha filha real. Novamente, era amor por tudo aquilo que eu projetava nela, que ela era, que ela seria, mas não amor por ela de verdade.

Ali, minha sapinha era uma desconhecida. Eu estava olhando ela pela primeira vez, conhecendo seu rostinho, seu cheirinho... Ela já me conhecia melhor, aliás, ela só ME conhecia, todo o resto era novo. Por isso, precisava de mim mais do que qualquer outra coisa. Eu atendi à essa dependência, à essa necessidade de mamãe, do meu leitinho, do meu colinho, do meu quentinho.

Eu lembro de me perguntarem (ainda nas primeiras semanas, ela não tinha nem um mês) se esse era o maior amor que eu já tinha sentido. Eu lembro de pensar sobre isso e reponder: “não”. O que eu sentia não era amor, era instinto. O mais puro e forte instinto. Naquele comecinho eu era para ela. Eu me sentia como um animal, descobrindo e lambendo minha cria. Respondendo da melhor forma que eu podia a todas as necessidades (físicas e emocionais) dela.

Quantas mães não sentiram a mesma coisa? Somado ao “não amor”, vem o cansaço. O puerpério é um periodo intenso! Tem momentos muito difíceis! Depois da privação do sono, você olha aquele bebezinho, aquele serzinho e vê um estranho. Se olha no espelho e vê uma estranha. Nada é como antes. E cade o amor? O tal do amor que todo mundo diz sentir? O maior amor do mundo?

Eu queria que todas as mães e futuras mães soubessem que é normal não amar essa criaturinha. Não se preocupe, não se culpe! Continue sendo a melhor mãe que você pode, na certeza de que você é a melhor mãe do mundo para a sua cria e que até suas falhas são necessárias. Porque o amor, o amor de verdade, é construído no dia a dia, no olhar trocado, na mamada da madrugada, no sorriso sincero, no chorinho acolhido, no carinho no rosto (dela no meu, meu no dela), no beijo nas pernas na troca de fraldas, na repetição do ééé (ela repete o meu, eu repito o dela), no colo que eu dou quando ela pede, no soninho no meu ombro...

Amor, amor de verdade, esse que eu sinto hoje pela minha filha, amor maior do mundo e maior a cada dia, esse amor é construção! Ele é regado e a cada dia vai crescendo, ficando maior que o peito, maior que eu, maior que o mundo! E lembra todo aquele amor pela filha boneca, pela filha na barriga, que a gente depositou na poupança? Ele vem se somando a esse novo amor a cada nova descoberta, sem que a gente nem perceba... Vai somando, crescendo absurdamente e vira sim aquele amor maior do mundo!! E dai, quando a gente olha laaa pra tras e lembra do momento do nascimento, diz com todas as letras “naquele momento, eu senti o maior amor do mundo!” Simplesmente porque não consegue mais imaginar um dia em que o peito não tenha estado cheio por ela.

Ah, minha filha! Como eu te amo! E como me surpreende o quanto esse amor ainda cresce...


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