Amor?
Ah, o amor!!
Quantos suspiros... Mas não, esse não é um texto água com açúcar no qual eu
declaro todo o meu amor pela minha sapinha! Sabe aquela coisa: “minha princesa,
no momento em que te vi, nunca senti tanto amor no meu coração”? Pois bem, não
é nada disso! Se engana (ou mente?) quem diz que sentiu o amor maior do mundo
por essa pessoinha no momento do nascimento, ou quando soube da gravidez, ou
quando ainda sonhava com a gravidez! Vou explicar o que quero dizer, mas vamos
aos poucos.
O amor durante a gravidez (e antes...)
Eu sempre
quis ser mãe. Quando eu era pequena, sonhava com a minha menina. Eu brincava de
boneca e amava minha filha naquela brincadeira, amava mesmo! Depois de grande
continuei sonhando com minha menininha, amando a minha futura pequena...
Engraçado que nunca sonhei com a familia perfeita, nunca me vi casada, mas
sempre me vi com minha menina. Eu fechava os olhos e via a gente conversando,
brincando, brigando... Como eu amava essa menina!
Então eu
fiquei grávida. Foi um susto! Mas passado o choque inicial, lembrei da minha
boneca, de tudo aquilo que eu imaginei pra mim, pra ela... Curti a gravidez,
fiz carinho na barriga, amei aquela que estava na minha barriga, amei muito!
Pera!!! Que
amor é esse? Eu não disse ali em cima que se enganava quem dizia que amava
desde tão cedo?
Ai é que
está a questão. Eu não amava a minha sapinha. Como amar alguém que você não
conhece? Que não existe? Eu tinha muito amor dentro de mim sim. Muito amor
direcionado pra minha filha sim, mas não pra minha filha real, não para a filha
que eu tenho hoje. Eu amava, eu amei, minha filha imaginária, imaginada, aquilo
que eu achava que ela era, que ela seria.
Mas esse
amor, por essa filha que não existe, nem nunca vai existir, é super importante.
Ele foi sentindo por mim e por todas as pessoas que já amavam minha pequena
antes dela chegar. Esse amor, a gente coloca num cofrinho e guarda. Porque amor
é investimento!
E então ela
nasceu.
O amor instantâneo no nascimento
Esse é mais
um que não existe. Pelo menos não pra mim e (imagino) pra muitas outras mães.
Logo depois do parto colocaram minha pequena sobre mim. Hoje, quando eu vejo as
fotos, eu tenho vontade de chorar, levada pela emoção do momento. Se me
perguntarem, eu falo do choque emocional, do amor instantâneo que senti la
naquela hora, mas esse é o amor que eu sinto hoje, que contagia e impregna a
memória daquele momento. Por isso é tão dificil perceber (aceitar, lembrar?)
que no momento em si do nascimento, aquilo não era amor pela minha filha real.
Novamente, era amor por tudo aquilo que eu projetava nela, que ela era, que ela
seria, mas não amor por ela de verdade.
Ali, minha
sapinha era uma desconhecida. Eu estava olhando ela pela primeira vez,
conhecendo seu rostinho, seu cheirinho... Ela já me conhecia melhor, aliás, ela
só ME conhecia, todo o resto era novo. Por isso, precisava de mim mais do que
qualquer outra coisa. Eu atendi à essa dependência, à essa necessidade de
mamãe, do meu leitinho, do meu colinho, do meu quentinho.
Eu lembro de
me perguntarem (ainda nas primeiras semanas, ela não tinha nem um mês) se esse
era o maior amor que eu já tinha sentido. Eu lembro de pensar sobre isso e
reponder: “não”. O que eu sentia não era amor, era instinto. O mais puro e
forte instinto. Naquele comecinho eu era para ela. Eu me sentia como um animal,
descobrindo e lambendo minha cria. Respondendo da melhor forma que eu podia a
todas as necessidades (físicas e emocionais) dela.
Quantas mães
não sentiram a mesma coisa? Somado ao “não amor”, vem o cansaço. O puerpério é
um periodo intenso! Tem momentos muito difíceis! Depois da privação do sono,
você olha aquele bebezinho, aquele serzinho e vê um estranho. Se olha no
espelho e vê uma estranha. Nada é como antes. E cade o amor? O tal do amor que
todo mundo diz sentir? O maior amor do mundo?
Eu queria
que todas as mães e futuras mães soubessem que é normal não amar essa
criaturinha. Não se preocupe, não se culpe! Continue sendo a melhor mãe que
você pode, na certeza de que você é a melhor mãe do mundo para a sua cria e que
até suas falhas são necessárias. Porque o amor, o amor de verdade, é construído
no dia a dia, no olhar trocado, na mamada da madrugada, no sorriso sincero, no
chorinho acolhido, no carinho no rosto (dela no meu, meu no dela), no beijo nas
pernas na troca de fraldas, na repetição do ééé (ela repete o meu, eu repito o
dela), no colo que eu dou quando ela pede, no soninho no meu ombro...
Amor, amor
de verdade, esse que eu sinto hoje pela minha filha, amor maior do mundo e
maior a cada dia, esse amor é construção! Ele é regado e a cada dia vai
crescendo, ficando maior que o peito, maior que eu, maior que o mundo! E lembra
todo aquele amor pela filha boneca, pela filha na barriga, que a gente
depositou na poupança? Ele vem se somando a esse novo amor a cada nova
descoberta, sem que a gente nem perceba... Vai somando, crescendo absurdamente
e vira sim aquele amor maior do mundo!! E dai, quando a gente olha laaa pra
tras e lembra do momento do nascimento, diz com todas as letras “naquele
momento, eu senti o maior amor do mundo!” Simplesmente porque não consegue mais
imaginar um dia em que o peito não tenha estado cheio por ela.
Ah, minha
filha! Como eu te amo! E como me surpreende o quanto esse amor ainda cresce...
Como não amar! Lindo texto!
ResponderExcluirAll you need is looove...
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